domingo, 7 de julho de 2013

O regresso dos flibusteiros

 

O ministro dos Negócios Estrangeiros português foi obrigado a aterrar o seu avião nos Barbados, depois de ver recusada a escala técnica em várias capitais dos países da América do Sul, no regresso da sua viagem oficial ao congresso Atlântico-Pacífico, que decorreu de segunda-feira até ontem, em Los Angeles (EUA).
À aterragem seguiu-se uma revista minuciosa de todo o pessoal diplomático, bem como à verificação das suas identidades. A insólita atitude das autoridades dos vários países latino-americanos, bem como do governo dos Barbados deve-se a uma propalada suspeita de seguir a bordo da aeronave oficial um suspeito do cartel da droga de Juarez, que viajaria a convite de membros do corpo diplomático português.
O ministro português, que ficou 17 horas confinado ao espaço do aeroporto, qualificou a atitude do governo da ilha das Caraíbas como de «regresso dos flibusteiros». Um membro da comitiva não se coibiu de dizer que se o incidente ocorresse com o avião presidencial dos Estados Unidos era caso para um «incidente bélico».
O assunto está a ser seguido com preocupação pela Comissão de Bruxelas, que espera uma atitude de repulsa «inequívoca» por parte de toda a União Europeia. Um programa de retaliações está em estudo e não se afasta a hipótese de colocar Barbados sobre «quarentena aérea».
Aguardam-se, por outro lado, desculpas formais das embaixadas dos demais países que se opuseram a que a aeronave fizesse escala técnica no regresso a Lisboa. «O clima é tenso» - afirmou uma fonte qualificada da UE.
O que aqui se ficciona como tendo ocorrido com um ministro dos Negócios Estrangeiros português, ocorreu realmente com o Presidente da Bolívia, Evo Morales. O incidente deu-se há quatro dias e, apesar dos protestos diplomáticos e do pedido de esclarecimento solicitado na Assembleia da República por deputados do PS, do PCP e do BE, a resposta do governo português continua a ser de que a recusa de assistência em escala técnica deveu-se a «razões técnicas».
 
 
Segundo um despacho da Lusa de 4/7/13, o MNE confirmou, quarta-feira, ter cancelado por «considerações técnicas» o sobrevoo de Portugal e aterragem em Lisboa do avião do Presidente da Bolívia, Evo Morales, na segunda-feira à tarde. O MNE acrescentou que a interdição de sobrevoo do espaço aéreo português foi levantada às 21h10 do mesmo dia, mantendo-se no entanto a interdição de aterragem em escala «por considerações técnicas».
Vários presidentes latino-americanos, entre eles a Presidente do Brasil, reclamam «desculpas formais», por parte de Portugal, bem como da Espanha, Itália e França, países que também fecharam o espaço aéreo ao avião presidencial boliviano.
 
António Melo


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