O catedrático Meneses
Leitão, da direita, lamenta que Passos Coelho não tenha dito ao PR que no
governo mandava ele, se dele não gostasse devia demiti-lo a ele, Passos Coelho.
Mário
Soares, na sua crónica semanal no Diário de Notícias, qualifica de caótica a
decisão de Cavaco Silva e considera que «humilhou» Passos Coelho e Paulo
Portas, que não tiveram a dignidade de se demitir. Aponta para um «Governo de
Salvação Nacional» e até dá um palpite para o chefiar – Silva Peneda.
Jornal i 16/7/13
O ataque
Cavaco Silva decidiu
atacar os três principais partidos portugueses forçando-os a um acordo. Avisou
logo, porém, que se não obedecessem haveria outras soluções, como um governo de
iniciativa presidencial. Ao mesmo tempo, deixou o governo a prazo até Junho de
2014, nem sequer dando posse aos novos governantes.
Este ataque deveria
ter tido uma resposta à altura. O primeiro-ministro deveria ter imediatamente
comunicado que é a ele que cabe decidir a composição do seu governo, por isso
ou o Presidente o demitia ou dava posse imediatamente aos novos membros do
governo. Ao mesmo tempo, avisaria que, se fosse demitido, a maioria rejeitaria
no parlamento qualquer governo de iniciativa presidencial, fosse ele dirigido
por um Monti ou por um Tonti. E quanto ao acordo com o PS é no parlamento e não
em Belém que esses acordos são discutidos, não cabendo ao Presidente a iniciativa
de os propor. O Presidente que se limitasse assim a exercer as suas
competências, que o governo e o parlamento não deixariam de exercer na
plenitude as suas.
Ao aceitarem submeter-se a este
ultimato, os líderes partidários prestaram um mau serviço à democracia, que
fica em risco com essa sua menorização. O país precisa do confronto
democrático, não de partidos que aceitam atentos, veneradores e obrigados às
imposições de Belém. E, como se viu pela imediata subida dos juros, nem os
sacrossantos mercados acreditam neste devaneio do Presidente.
Diário de Notícias 16/7/13
O caos está instalado
1-
Como ninguém se entende depois do discurso do Presidente Cavaco Silva, o caos é
total. Mas falta o principal: este Governo de Passos Coelho, que está há muito
moribundo e completamente paralisado, não teve a dignidade de se demitir. Por
isso, tudo continua na mesma. Sem que ninguém veja uma saída para o futuro
deste País. Mas há...
Os mercados e a troika já perceberam que com este
Governo tudo irá de mal a pior. O descrédito é total, como a imprensa
internacional vem manifestando. Não somos a Grécia, dizia com um orgulho tonto
Passos Coelho, o fiel aluno da chanceler Merkel. Pois não. Somos piores que a
Grécia.
Os portugueses sabem
que com Passos Coelho tudo irá mal, sem remédio. Vítor Gaspar, quando se
demitiu, numa carta lúcida que tornou pública, acusou Passos Coelho e
responsabilizou-o. Enquanto persistir este Governo nada se modifica. É verdade,
e cria um total vazio.
O Presidente da
República, no seu discurso, humilhou Passos Coelho e o seu atual aliado, Paulo
Portas, que muda de opinião como quem muda de camisa. O Governo que Passos
Coelho tinha fabricado para convencer Portas e que continha como ministros
dirigentes do CDS/PP, afinal, não existe.
Portas não será
vice-presidente do Governo, mas tão-só ministro dos Negócios Estrangeiros, como
era. Perante tal humilhação, Passos Coelho e Portas nem sequer protestam.
Porque o que querem é continuar no Governo a todo o custo, venham as
humilhações que vierem...
O contrário do que
pensam os portugueses, que acham que enquanto Passos Coelho não desaparecer
como primeiro-ministro nada de bom lhes pode acontecer. E Portas? Estava ao
lado de Passos Coelho, na última sessão do Parlamento, como um cordeirinho. E falou
sem dizer nada de jeito. Uma tristeza da parte de um homem inteligente mas, ao
que parece, sem carácter...
Para os portugueses
vítimas de tantos atropelos, roubo das pensões, desemprego, que os obriga a
emigrar, sem saber como valer aos filhos, a prioridade das prioridades consiste
na demissão do Governo. É também a opinião do PS, do PCP, do Bloco de Esquerda,
na sua esmagadora maioria, das centrais sindicais, dos parceiros sociais, e
mesmo dos empresários e de alguns banqueiros.
Partilho, cem por cento,
essa opinião, embora não tenha hoje nenhuma responsabilidade política e nem a
queira ter. Limito-me a pensar e a dizer o que penso.
E quem substitui o
Governo Passos Coelho/Portas? Há várias soluções que o Presidente da República
pode escolher: um Governo de Salvação Nacional, dirigido por um homem sério e
não ligado aos negócios, como Silva Peneda ou outros, uma vez que o Presidente
da República não quer convocar eleições, antes de 2014 e recusa - e bem - um
Governo de iniciativa presidencial. O essencial, como pensam os portugueses, é
que este Governo caia e desapareça, antes que caia a mal.
Os partidos - sem
exceção - estão em queda na opinião dos portugueses, como a política e os
políticos em geral. Era bom que se entendessem sobretudo os da esquerda (ou que
se reclamam da esquerda) sem terem partido nenhum. Mas também os
sociais-democratas anti-Passos Coelho, que são obviamente importantes e devem
começar a agir. Há hoje uma onda cívica de pessoas que não se reveem em nenhum
partido, mas querem agir política e civicamente e que o têm feito. É óbvio que
os partidos têm de se modificar e desburocratizar. Porque os partidos são
necessários e essenciais em democracia.
O Presidente disse no
seu discurso que os três partidos do arco do poder se devem entender. Agora?
Mas como, se nestes dois últimos anos o Governo Passos Coelho só tentou
inferiorizar o PS de todas as formas, como lembrou o deputado e antigo
presidente dos Açores, Mota Amaral, insuspeito, com o seu bom senso e sabedoria
habituais.
Isso é uma impossibilidade
aparente. Só se o PS fosse dirigido por alguém que não tivesse senso, o que não
é obviamente o caso. Como as referências permanentes em relação à assinatura do
memorando, o qual já teve sete avaliações. Onde isso já vai?... Quem foi além do
memorando foi o Governo Passos Coelho, com uma subserviência total em relação à
troika. Mais ninguém. Por sinal quis
sempre ir além da troika, cada vez
mais austeridade, para agradar à sua mestra Angela Merkel, como todo o País
sabe... Que tem o PS a ver com as avaliações até à atual? Nada!
A austeridade só
agravou a situação portuguesa, cometendo-se erros e mais erros, como reconheceu
Vítor Gaspar. E tendo estado, desde então, a vender a retalho o nosso
património, continuando a dever cada vez mais dinheiro à troika e aos mercados usurários que a comandam. Há que gritar:
BASTA! Este Governo não pode continuar a destruir o País e a empobrecer, até
aos limites da miséria, os portugueses, de todas as classes e sobretudo os mais
pobres.
Cavaco Silva não pode
esperar nada de bom - e sobretudo a paz em que temos estado - se espera
continuar com este Governo, mesmo humilhado, até junho de 2014. Reflita em que
situação estaremos todos, a começar por ele próprio...
Constituir um Governo de Salvação
Nacional com gente incorrupta e patriótica. É do que precisamos como de pão
para a boca. Se assim não for, o seu discurso terá sido uma boa vingança mas
não faz qualquer sentido.
ANTÓNIO MELO