Ele ronda,
eles rondam,
vós admirados,
nós tramados.
tugaleaks. com
Deixando
de lado o que era previsível, ou seja os 10’ iniciais, dê-se atenção ao que foi
novo.
O
atual PR apenas se considera presidente dos portugueses que estão «conscientes»
da responsabilidade do Memorando de Entendimento com a troika. Os restantes são vadios que volta e meia acampam nos
jardins em frente da residência presidencial, num abuso e desrespeito pela
figura presidencial.
Acresce
que os partidos «do arco da governabilidade» não são todos iguais. O PSD é o
primeiro e por isso governa; o CDS/PP é o segundo e por isso coliga-se; o
terceiro é o PS e por isso fica à porta, espécie de mordomo a conduzir os
convidados aos aposentos presidenciais.
Assim,
numa linguagem enxuta de adjetivos e superlativos, Cavaco Silva indicou que o
(seu) país precisava de um governo de «salvação nacional», a ser composto pelos
partidos atrás designados, segundo a ordem estabelecida, mas com período de
validade delimitado – até junho do próximo ano.
Nessa
altura o PR convocará eleições legislativas, assegurada que esteja a ordem
pública e longe o protetorado da troika.
Conta que este ano de vigência da «salvação nacional» baste para esclarecer a população
de que não pode sonhar sequer em votar a 56% nos partidos de esquerda – PS, PCP
e BE.
Para
já, as ambições de Paulo Portas e comandita ficam sem efeito. Vai regressar ao
Ministério dos Negócios Estrangeiros, para continuar a fazer o que tem feiro –
viajar para fora da Europa a vender computadores portáteis e outras bugigangas.
Os
negócios emergentes ficam com Cavaco Silva e o presidente do Banco de Portugal,
mais algumas figuras públicas de reputação inquestionável.
Disse
tudo isto com a cara de pau que lhe faz de rosto e foi-se embora.
Dois
comentários merecem ser assinalados, entre o caudal que inundou os écrans televisivos. Arménio Carlos,
secretário-geral da CGTP, disse que se os dirigentes que depois da revolução de
Abril fossem do quilate do atual PR, certamente que teríamos um regime bem
pouco democrático. O porta-voz do PS garantiu que o PS não aceitaria tarefas
governativas que não fossem legitimadas pelo voto popular e João Assunção
Ribeiro acentuou um dado que não é de somenos no debate político europeu dos
países em crise – «a olímpica ocultação da grande diferença entre Portugal e a
situação da Grécia ou da Itália». Nesses países, sublinhou o porta-voz
socialista, «os arranjinhos informais geraram alternativas anti Europa,
antissistema, antidemocracia e antieuro. Cá, goste-se ou não, a alternativa é o
PS» (jornal i, 11/7/13).
Realce-se
o detalhe sobre o «gosto», que efetivamente provoca engulhos a direita e à
esquerda. À direita, ficou ontem dito pelo próprio, a unidade faz-se sob a
batuta presidencial.
À
esquerda é o arco-íris, maravilhoso e evanescente. Os partidos que ontem foram
desprezados por Cavaco Silva, que nunca os mencionou – PCP, BE e Verdes – não
conseguiram, nem mesmo assim, estabelecer uma declaração conjunta que lavasse a
afronta democrática. Foi preciso vir o secretário-geral da CGTP-IN a dizê-la.
Para
lá desta pluralidade de filosofias políticas há, ainda, a das sensibilidades
diversificantes. Entre a «necessidade» de um verdadeiro partido de esquerda,
postulada por Rui Tavares, na sua Esquerda Livre, e a de um «criação de um novo
partido político», lançada por Paulo Trigo Pereira na sua crónica mensal do
Público (7/7/13), devemos ainda incluir a «inevitabilidade» do partido desejado
por Jorge Bateira no seio da Convergência e Alternativa.
Ao
que se ouve por aí, as proposituras de novas – literalmente «novas» – organizações
partidárias, não se encerra por aqui.
Há
neste bulício um problema provavelmente genético – a esquerda é muito lampeira
em ver a tranca no olho da direita, mas custa-lhe tirar o argueiro do seu.
Pode
ser que o choque político que aí vem permita uma refundação.
Pode
ser. Mas só com alguma modéstia individual e muita vontade coletiva.
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