Esta
narrativa integra sem dificuldade alguns factos que chocam o cidadão comum
(casos de endividamento para consumo, muita formação profissional ineficaz,
obras públicas de duvidosa utilidade, distribuição de empregos no Estado e
empresas públicas, corrupção de vários tipos, etc.) ligando-os a má gestão do
Estado, "a causa" da crise. É uma narrativa muito forte porque é
plausível para o cidadão comum sem formação específica. Assim sendo, seria de
esperar que as esquerdas tivessem investido fortemente na elaboração de uma
alternativa, até porque a política de austeridade que tem sido seguida produziu
uma calamidade social. Infelizmente, apenas foram produzidas narrativas
parcelares sem consistência global. Uma contranarrativa teria de explicar em
linguagem simples e popular que o endividamento foi gerado pela perda do escudo
e que isso conduziu ao crédito fácil e à desindustrialização do país. Teria de
dizer que com o euro perdemos as políticas de que precisamos para ir mais além
no desenvolvimento. Teria de dizer também que perdemos a liberdade para decidir
sobre as diversas vertentes do Estado social porque essas escolhas já estão
feitas e inscritas nos tratados, as que a Alemanha aceitou ou mesmo impôs.
Teria de dizer que não temos futuro dentro do euro.
Em
Agosto, a narrativa neoliberal não foi de férias. [Jorge
Bateira (Jornal i)]
Eles
bombardeiam-nos com meias-verdades e mentiras, assustam-nos com os “pecados”
cometidos. Vestem-se de purificadores, de salvadores. Apresentam-se como única alternativa.
E
nós?
Assumimos uma culpa que não temos? Acreditamos na mentira que nos vendem? Aceitamos o castigo e achamos que não há outra saída?
Lutar contra, de todas as formas, é o caminho. Porque é nas nossas mãos que está a possibilidade de mudança.
VAMOS A ELES?