quarta-feira, 10 de julho de 2013

A Oeste nada de novo


A poeira assentou e o XIX Governo sobreviveu. O jornal i ilustrou esta situação fazendo com ela a manchete.
 
 

É bom, é mau? É o que é.
Em todo o caso, assente a poeira, vale a pena rever algumas declarações que passaram despercebidas neste vórtice de teatro revisteiro. Carvalho da Silva, no Expresso da Meia Noite, da SIC, tentou, no passado sábado chamar a atenção para as declarações que a chanceler alemã deu numa entrevista pan-europeia a seis jornais, mas não teve êxito.
Carvalho da Silva quis chamar a atenção para a continuação das políticas de austeridade talhadas pelo governo de Angela Merkel e que ela reafirma neste entrevista de 4/7/13.
Em discurso direto, aqui fica o principal dessas declarações:
 
«Como nasceu a crise da dívida? Certos países atingiram um nível de endividamento tão elevado que os investidores deixaram de lhes conceder confiança e deixaram de comprar as obrigações que estes emitiam. Os juros começaram a subir rapidamente e os países em crise deixaram de poder assegurar o seu financiamento, a não ser a juros ruinosos. Em tal situação, aumentar ainda mais o volume da dívida não é solução. O que é preciso fazer é reduzir os défices para que os investidores internacionais retomem confiança e se abram novas margens de manobra financeiras para investir no futuro. Nesse plano fizemos já grandes progressos na Europa.»
 
[Devemos todos conformar-nos ao modelo alemão?]
«Que um país queira dotar a sua economia de estruturas completamente diferentes das da Alemanha não põe qualquer problema: regozijo-me ao ver que políticas diferentes podem igualmente levar ao êxito. Naturalmente, ninguém pode libertar-se da necessidade de ser competitivo, de construir e conquistar a sua prosperidade.»
 
[Não devia acelerar-se a união bancária?]
«Avançamos em todos os aspetos da união bancária, mas fazer depressa sem ir ao fundo das coisas não nos servirá para nada. A vigilância entrará em vigor no próximo ano. O Banco Central Europeu deve primeiro contratar centenas de profissionais qualificadíssimos, em seguida construir uma reputação de autoridade de supervisão, graças a testes de resistência rigorosos».
 
O tom assertivo da chanceler deve enquadrar-se na campanha eleitoral alemã, para as eleições de setembro. Mas dando-lhe todas as sondagens a maioria, só não se sabe ainda se será absoluta, quer dizer que a política europeia alemã manterá o seu curso de austeridade sem concessões aos apertos das ‘cigarras’ meridionais.
O que dá maior acuidade à crónica de Paul De Grauwe, um economista belga que foi assessor de Durão Barroso, mas que tem uma visão diferente da correntemente afirmada pelo presidente da Comissão Europeia. De Grauwe, na edição do Expresso deste sábado, tece um desenho assaz diferente sobre a «ausência de alternativas às políticas de austeridade» e critica o XIX Governo por ser «o instrumento dos países credores».
 
Aqui fica um excerto da sua crónica:
«Não havia alternativa, como os países credores e os europeus se fartaram de repetir. Havia, no entanto, uma alternativa e bem razoável, aliás. Uma vez que tanto os países devedores como as nações credoras eram responsáveis pela crise, uma alternativa teria sido a partilha dos custos do ajustamento. Isso teria implicado que as nações credoras tivessem que suportar perdas nas suas exigências de pagamento relativamente aos países do Sul. Mas, tal como depois de todas as guerras, quem escreve a história são os vencedores. Neste caso, os vencedores escreveram a história económica e esta dizia que a austeridade era inevitável mesmo que fosse dolorosa para quem a ia sofrer.
O drama é que o Governo português se permitiu ser o instrumento dos países credores para imporem o pagamento total da dívida. Ao faze-lo, defendeu os interesses desses países contra os interesses de Portugal. Nenhum governo democrático pode fazer isso sem ser punido pela sua população».
 
É pena que o Presidente da República conserve o seu velho hábito de não ler jornais, talvez aprendesse mais.
António Melo

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